O suspeito de atear fogo em uma jovem acreana na cidade de Paranatinga, no interior do Mato Grosso, foi preso preventivamente na tarde dessa segunda-feira (16) pela Polícia Civil de Cuiabá, capital mato-grossense, a pouco mais de 250 km de distância, por tentativa de homicídio. O mandado de prisão contra Djavanderson de Oliveira Araújo, de 20 anos, foi cumprido no Hospital Municipal de Cuiabá, onde ele segue internado.
De acordo com o delegado Gabriel Conrado Souza, que investiga o caso em Parantinga, as informações iniciais demonstram que Djavanderson premeditou o crime e tinha o objetivo de matar Juliana Valdivino da Silva, de 18 anos, com quem teve um relacionamento por três anos.
Ainda conforme o delegado, foi apurado que no dia do crime, dia 9 de setembro, Djavanderson foi até um posto de combustível da cidade e comprou R$ 13 de álcool. Mais tarde, ele atraiu a jovem até a sua casa, no bairro Jardim Ipê, onde jogou o líquido na jovem, a incendiou, e também acabou se ferindo.
Juliana ficou com 90% do corpo queimado, e segue entubada, também no Hospital Municipal de Cuiabá, até esta terça-feira (17).
“Durante esses oito dias, a Polícia Civil aprofundou as investigações e conseguimos identificar o local onde esse indivíduo comprou o combustível necessário para causar esse incêndio. Nós ouvimos um frentista do posto, onde ele reconheceu esse indivíduo como um comprador de R$ 13 de álcool. Esse indivíduo [Djavanderson] se dirigiu até a residência, aliciou sua ex-companheira até essa residência e, no local, ele até a fogo sobre sua ex-companheira. E, ao atear fogo sobre ela, ele também resta lesionado. Essa jovem hoje se encontra no Hospital Municipal de Cuiabá, gravemente ferida, ainda com 90% do seu corpo queimado, entubada, correndo risco de vida”, explicou o delegado em vídeo.
Versão da família do suspeito
Souza também informou que a investigação descartou uma versão apresentada pela família de Djavanderson na noite do crime. Segundo o delegado, parentes dele alegaram que o incêndio se tratava de uma tentativa de suicídio do rapaz, e que Juliana se feriu ao tentar intervir.
Para o delegado, que considera o caso um “crime cruel e muito bárbaro”, essas informações não se sustentam.
“A genitora dessa vítima relatou aos policiais civis que, no dia dos fatos, a jovem de 18 anos informou que, caso ela sumisse, o responsável pelo seu sumiço seria esse jovem rapaz de 20 anos, já indicando que ela estava percebendo o intuito dele de ceifar sua vida”, relatou o investigador.
Jovem pediria medida protetiva
De acordo com a mãe da jovem, Rosicléia Magalhães, que mora no Acre, Juliana estava descontente com o relacionamento e contou para ela que iria pedir uma medida protetiva contra o suspeito, Djavanderson de Oliveira Araújo, de 20 anos, porque ele estava “enchendo o saco”.
A suspeita da mãe é que o rapaz tenha clonado o celular da vítima e, assim, ficou sabendo da decisão de Juliana. Com isso, ele a atraiu até sua casa e, por volta das 22h do dia 9, jogou álcool na jovem e a incendiou. Ele teve 50% do corpo queimado e também foi transferido para Cuiabá. Após o fato, foi registrado um boletim de ocorrência.
“Na noite do dia 9, ela me ligou, dizendo que tinha se separado, que estava já com quase três meses separada, e tinha ido buscar as coisas que tinham ficado na casa, e ele não queria deixar ela sair. Então, eu liguei de volta para ela, e falei com ele, conversei com ele, e mandei ele deixar ela sair, se não ia dar problema para ele. Ele foi e deixou ela sair para ir trabalhar. À noite, eu conversei com ela, para ver se estava acontecendo alguma coisa. Por volta de 8, 9 horas da noite, foi quando eu parei de conversar com ela, e estava tudo bem, a única coisa que ela me disse foi: ‘mãe, amanhã eu vou entrar com a medida protetiva porque o Dêja está enchendo o saco’. Eu falei: ‘você vai entrar com medida protetiva e vem embora’. Mas, ele clonou o telefone dela e viu as mensagens, e nessa mensagem, após a minha conversa com ela, ele atraiu ela até a casa, dizendo que tinha atropelado alguém, estava nervoso, e para ela ir lá ajudá-lo. Ela foi, e nessa ida eu não sei como é que aconteceu a situação dentro da casa. Quando ela estava podendo falar, que ela chegou no hospital falando, ela disse que ele jogou fogo nela e colocou fogo ele também. Ele se queimou porque respingou o álcool nele”, relatou.
Mãe era contra o relacionamento
Rosicléia relembra que Juliana e Djavanderson se conheceram quando estudaram juntos na cidade de Porto Acre. À época, eles começaram a se relacionar, mas a mãe não achava que o relacionamento era apropriado porque os pais dele eram acusados de crimes no estado do Pará, inclusive chegando a serem presos no município de Vilhena, no interior de Rondônia. Por conta disso, Rosicléia proibiu a filha de se relacionar com o rapaz.
À época da prisão dos pais, Djavanderson foi embora para Vilhena, mas o casal manteve o relacionamento à distância. Cerca de seis meses depois, ele voltou ao Acre, para a cidade de Bujari, vizinha a Rio Branco, e retomou contato com Juliana.
Ainda contra o relacionamento, a mãe decidiu mandar a filha para morar com a irmã mais velha em Cuiabá. Cerca de oito meses depois, ela soube que Djavanderson também havia se mudado para o estado do Mato Grosso, porém, não sabia em qual município, que se tratava de Paranatinga, onde ocorreu o crime.
“Nesse meio tempo, eles se encontraram e continuaram o namoro deles. Quando chegou no período do final do ano de 2022 para 2023, ela foi visitar ele na cidade dele, de férias da escola. Nessa ida para visitar ele, ela resolveu não voltar e viver lá junto com ele”, contou.
‘Nossa preocupação é que ele vai vencer’
Apesar de Juliana ter contado para mãe que estava sendo importunada por Djavanderson e que pediria uma medida protetiva, Rosicléia lembra que ela nunca relatou agressões. Ainda assim, ela ouviu do chefe da jovem que ela já chegou ao trabalho com um arranhão no rosto, e que, ao ser perguntada, disse ter se machucado sozinha. A mãe, porém, acredita que tenha sido uma agressão dele.
Agora, a família teme que o suspeito escape impune e volte a tentar agredir a garota. Rosicléia espera que ele seja preso e afirma estar em contato com a polícia local.
“A nossa preocupação é que ele vai vencer, que ele venha a fugir ou viver em liberdade, ‘de boa’, porque o delegado não decretou a prisão dele. Fizemos um boletim de ocorrência, a delegada da capital me mandou mensagem dizendo que vai ver se o delegado decretou a prisão dele. Se ele não decretou, ela vai decretar. A gente está na preocupação dele fugir do hospital, porque ontem [sexta-feira, 13] quando eu estive no hospital, a mãe dele estava lá e estava levando pertences dele. Então, a gente está tentando mobilizar essa divulgação dentro da cidade para ver se o delegado faz alguma coisa”, disse.
Saiba como denunciar casos de violência doméstica:
- Polícia Militar – 190: quando a criança está correndo risco imediato;
- Samu – 192: para pedidos de socorro urgentes;
- Delegacias especializadas no atendimento de crianças ou de mulheres;
- Qualquer delegacia de polícia;
- Disque 100: recebe denúncias de violações de direitos humanos. A denúncia é anônima e pode ser feita por qualquer pessoa;
- Profissionais de saúde: médicos, enfermeiros, psicólogos, entre outros, precisam fazer notificação compulsória em casos de suspeita de violência. Essa notificação é encaminhada aos conselhos tutelares e polícia;
- WhatsApp do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos: (61) 99656- 5008;
- Ministério Público;
- Videochamada em Língua Brasileira de Sinais (Libras)