O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) participou da cerimônia de comemoração ao retorno de um manto Tupinambá ao Brasil e prometeu retirar ocupantes de terras indígenas na Bahia. O retorno do objeto marca uma série de comemorações de povos indígenas por ser marcado como um símbolo de identidade e ancestralidade.
O evento foi realizado no Museu Nacional, localizado na Quinta da Boavista, no Rio de Janeiro. Uma comitiva Tupinambá com, aproximadamente, 170 pessoas vieram de Olivença (BA) para se encontrar com o item sagrado.
Durante o evento, o presidente ainda prometeu tirar das terras Tupinambás os garimpeiros e demais invasores no território.
“Vou voltar para Brasília e ter uma reunião com meu ministro da Justiça, [Ricardo] Lewandowski. Vamos fazer o possível e o impossível para atender a grandiosidade do manto sagrado para desintrusar a terras Tupinambás”, disse o presidente.
A desintrusão consiste na retirada de ocupantes de uma área. Segundo Jamopoty, cacique do povo Tupinambá, a volta do manto sagrado representa a história reescrita, não só para os tupinambás, mas para todos os povos originários do Brasil.
“Viemos travando uma luta para a demarcação do nosso território. É muito difícil, mas o manto chegou ao Brasil. Quantos anos este manto estava dentro do nosso território e foi levado? Com toda as forças dos nossos ancestrais, ele traz para nós esse direito de vida. Não só para o povo Tupinambá, mas todo o povo originário do Brasil. Recontando essa história. Não é fácil a vida do povo indígena. Nós queríamos que fosse melhor, mas vamos acrescentar a história desse povo através do manto sagrado”, disse.
Como o manto pertence ao povo Tupinambá do município de Olivença, Lula pediu ao governador da Bahia, Jerônimo, para construir um local adequado para receber o item sagrado em seu lugar de origem.
“Ele está no Museu Nacional, mas eu espero que todos compreendam que o lugar dele não é aqui. Tenho certeza que vamos ter a compreensão do governador da Bahia que disse que é tupinambá também. Ele tem a obrigação e compromisso histórico de construir na Bahia um lugar que possa receber este manto e preserva-lo para que ele não venha a ser estragado”, frisou.
A ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, afirmou que o retorno do manto marca o início de um processo que pode instituir protocolos de acesso a peças sagradas para os povos indígenas, que estejam no Brasil ou no exterior.
“Estamos diante de um momento em que a história está sendo revista. Enxergo o retorno do manto como o início de um processo que tem tudo para instituir protocolos de acesso a inúmeras peças sagradas para nós, indígenas, tanto dentro como fora do Brasil”, avalia a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara.
O manto
O manto Tupinambá tem quase 400 anos e estava fora do Brasil desde meados do século XVII. Permaneceu no Museu Nacional da Dinamarca por 335 anos.
Desde que chegou ao Brasil, segue em um espaço de guarda, numa sala da Biblioteca Central do Museu Nacional preparada para garantir a sua preservação. O manto não está atualmente em exposição, mas será destaque, em 2026, na reabertura das exposições do Museu Nacional, no Paço de São Cristóvão.
O manto é uma peça com cerca de 1,20 metro de altura, por 80 centímetros de largura. Considerado uma entidade sagrada pelos Tupinambá, é confeccionado (em sua maioria) com penas de guarás, mas também com plumas de papagaios, araras-azuis e amarelas.
A peça teria sido levada à Europa por holandeses, por volta do ano de 1644. Foi doada pelo Museu Nacional da Dinamarca que, desde o ano de 1689, detém outras quatro peças como essa.